Bàbá Alexandre Cheuen T'Olóògùn Ede

A Falando de Axé tem o prazer de entrevistar e homenagear o Bàbálóòrìsà Alexandre Cheuen T’Lògùn Ede

 

Falando de Axé: Bàbá Alexandre, com que idade você começou a se envolver com o Candomblé? Na sua época, candomblé já era “coisa pra criança” ou ainda existia um preconceito em cima disso?

Bàbá Alexandre: Candomblé naquela época era tabu. Na rua onde nasci tinha um candomblé, do falecido Sr. Marinho de Ogun Ayres. Cresci indo escondido da minha mãe no candomblé do seu Marinho. Aquilo tudo já me fascinava!

 

Falando de Axé: Sua família já era do candomblé? Se sim, desde quando? Se não, como foi a aceitação deles?

Bàbá Alexandre: Minha avó carnal era iniciada à Nàná. Mas minha mãe mantinha certa distância do candomblé. Fui uma criança muito doente. Minha mãe levava ao médico que não me achava nenhuma doença. Um dia ela me levou no Seu Marinho que disse a ela que eu tinha que me iniciar, porém, ela se negou permitir a minha iniciação. Vim a me iniciar já com 21 anos, fui com minhas próprias pernas. Minha família foi na minha saída. A aceitação foi difícil.

 

Falando de Axé: Você é um sacerdote que possui uma casa com um número considerável de filhos e amigos, como é a convivência com o ser humano no meio religioso, você acha fácil?

Bàbá Alexandre: Convivência humana é difícil em qualquer grupo, principalmente no religioso. O sacerdote precisa ser imparcial, olhar todos os filhos com os mesmos olhos. O que serve pra um servirá para o outro. Assim tenho feito.

 

Falando de Axé: Sua comunidade no Orkut – Candomblé Aqui Eu Sou Feliz, é muito conceituada pelos temas brilhantes que são abordados e também pela postura da mesma, desde sempre foi assim?

Bàbá Alexandre: Sim, o objetivo da comunidade sempre foi exaltar a religião. Quando criei o espaço foi numa época onde existia uma comunidade que falava mal de todo mundo, principalmente de mim. Creio que ferramentas como o Orkut não pode servir de denúncia, pois é um prato cheio para os católicos e protestantes. Existem outras formas de protesto ou denúncia. Até porque nas comunidades o negócio toma outra proporção, vira mais para o lado pessoal, ridicularização.

Conto com um grupo de moderadores que são atentos. Não adicionamos qualquer um e nem aceitamos temas que exponham o sagrado.

 

Falando de Axé: A Internet tem o seu lado bom e ruim, em sua opinião no que a internet fez bem à você? E mal, fez algum? Qual?

Bàbá Alexandre: A internet é uma ferramenta positiva para quem faz dela bom uso. Pra mim faz bem porque nela procuro entretenimento. Acho que religião deve ser buscada em templos da religião. Por isso evito certos temas lá na comunidade.

Através da Net conheci pessoas maravilhosas como Ìyá Valéria, que se tornou minha amiga pessoal.

Falando de Axé: Você tem um conhecimento bem interessante, nos diga: Você já bebeu de outras fontes, ou se mantém fiel aos ensinamentos de seus mais velhos?

Bàbá Alexandre: Beber de fontes variadas é uma faca de dois gumes. Me considero muito novo ainda, tenho apenas 23 anos de inciado e 13 de sacerdócio. Sou um eterno aprendiz! Ainda falta muita coisa para eu aprender dentro da minha família de orixá. Talvez no futuro eu me interesse por outras culturas, de outras nações.

 

Falando de Axé: Como o irmão explica essa grande diferença de conhecimento entre os sacerdotes do candomblé de uma mesma nação, ou seja, porque há uns que fazem coisas tão coerentes e outros que fazem tantas loucuras?

Bàbá Alexandre: Antigamente a transmissão de cargo era coisa respeitada. Só abria casa quem realmente tinha caminhos pra isso. Hoje em dia todo mundo quer ser sacerdote. Brigam com seus antecessores e abrem suas casas sem vínculo com ninguém. Catam aqui, ali, inventam um bocado e o resultado está no Youtube da vida.

 

Falando de Axé: Você já sentiu vontade de sair do Rio de Janeiro para outro estado da federação? Se sim, qual? Se não, o que lhe prende ao RJ?

Bàbá Alexandre: Sou feliz no Rio de Janeiro. Sinto falta de viver o candomblé da Bahia apenas.

 

Falando de Axé: Olóògùn-ede é seu òrìsà, o que você pode nos falar dele? E o que o mesmo representa em sua vida, tanto material, quanto espiritual?

Bàbá Alexandre: Fiz santo numa época que o Àbían ia pra roça apenas com o enxoval e um monte de incertezas. Quase fui iniciado a Oxalá.

Logunedé é minha existência.
O que sei de Logun é o básico, trivial nas casas antigas: Pequeno caçador/pescador, filho de Ipondá e Erinlé/Ibualamo mas que também é um grande feiticeiro. Não consigo me ver sem meu orixá.

 

Falando de Axé: Para finalizar essa nossa espetacular entrevista, a qual tivemos grande prazer de realizar, deixe uma mensagem para todos os nossos leitores:

Bàbá Alexandre: Tratem o candomblé como RELIGIÃO e seremos mais felizes!

Obrigado pela oportunidade e até a próxima!