Mãe Elis Peralta

Falando de Axé homenagea Mãe Elis Peralta, Sacerdotisa da T.U.E.A - TENDA DE UMBANDA ESTRELA DE ARUANDA (Casa de Vovó Cambinda de Guiné), situado na Cidade Rio de Janeiro - RJ. Sacerdotisa essa que muito tem contribuído para a Religião Umbandista.

 

Falando de Axé: Mãe Elis, você poderia nos falar como e quando você conheceu a Umbanda e o que lhe levou a escolher a mesma como Religião?

Mãe Elis: Tenho uma história muito “peculiar” em relação à Umbanda. Desde nova, freqüentava um Centro de Umbanda no qual meu Pai era médium, porém, confesso, ia obrigada, detestava e não me sentia bem, conforme fui crescendo, minha aversão também, chegando ao ponto de por volta dos meus 14 anos, tomar cinco tranqüilizantes para não ter que ir numa gira com meus pais. Muita água passou por debaixo da ponte, mas de certa forma, minha vida sempre se entrelaçava com a Umbanda e eu cada vez “correndo” mais dela. Até que num belo dia, numa assistência, sentadinha, temerosa, ressabiada e indo porque andava “sentindo-me” muito mal fisicamente, Mª Cigana pela 1ª vez em minha vida me fez sentir a força de sua incorporação, daí por diante enveredei por um longo caminho, iniciei numa casa de Candomblé, que tocava Umbanda também, aprendi, conheci vários universos dentre essas maravilhosas religiões, fui de “Umbanda Traçada”, “Omolokô”, “Umbanda Branca”, tive a honra de conhecer pessoas que foram muito generosas em me passar aprendizados, e me direcionar nessa maravilhosa religião que é a Umbanda.

 

Falando de Axé: O que é Umbanda e o que esta magnífica Religião Brasileira representa para você?

Mãe Elis: Umbanda representa pra mim o sentido da força grandiosa da natureza, é a maleabilidade das Águas, a firmeza e transformação da Terra, o ímpeto do Fogo, o dinamismo do Ar, é a união desses elementos que se traduzem também por Orixás, que se consolida em nossa Doutrina em nosso Pentagrama Umbandista que é a manifestação do espírito em prol da Caridade e da Evolução espiritual, através dos ensinamentos de nossos Mentores e do Pai maior. É o som do atabaque, o conselho amoroso do Preto-Velho, a seriedade do Caboclo, a faceirice das moças, a firmeza do Exú, o jogo de cintura da Malandragem e a felicidade das Crianças (erês)...

É também a oportunidade dada a nós que escolhemos e fomos escolhidos de propagar a simplicidade e força de nossa religião. É ter orgulho, porque em nossa Doutrina falamos com o “Alto” e com o “Embaixo”, lidamos com dores, sorrimos, transformamos, abraçamos, sem distinção de cor, raça, credo, saber, condição material, espiritual e até opção sexual, sabemos que perante a eles todos somos um... Umbanda (Uma Banda)...

 

Falando de Axé: Como você descreve a Umbanda de hoje, será que possui diferença em relação à Umbanda de antes?

Mãe Elis: A Umbanda é uma religião tão vasta justamente por essa capacidade mutável que possui, capacidade de agregar as mais diferentes visões, doutrinas e principalmente oportunidade de aprender com os ensinamentos daqueles que são muitas vezes mal vistos pela “sociedade”. Exemplos dessa diferença da nossa “Umbanda de antes”, podemos ver em entidades que vieram somar a nossa religião e que antes eram desconhecidas, tais como:

Malandros, Ciganos, Baianos, Marinheiros, Cangaceiros...

Outra mudança fundamental e que realmente nesse centenário se torna o divisor de Águas para uma estrutura complexa, firme e cada vez mais forte, é a busca do aprendizado, é o entendimento, que assim como o mundo, evolui, precisamos mostrar que nossa religião é tão forte justamente por ser fundamentada na força e ensinamentos da própria Natureza.

 

Falando de Axé: O que você poderia nos falar sobre o completar dos 103 anos de Fundação da Umbanda, neste ano?

Mãe Elis: Podemos dizer que somos vitoriosos...

Porque completar 103 anos de uma religião completamente descriminada, em que podemos constatar absurdos vindos, não somente de outras religiões que esquecem o sentido principal do livre-arbítrio, fraternidade, amor ao próximo e de um Pai maior que é UNO a todos, temos também adeptos de nossa própria Umbanda (que se intitulam umbandistas...) que transformam nossa religião em algo muito longe do que foi e é passado por nossos Guias espirituais.

Mas graças a Lei Divina, paralelo a tudo isso, existe um movimento cada vez maior vindo de todas as esferas, espirituais e carnais de desmistificar, ensinar e realmente fundamentar nossa religião, por isso podemos dizer que nesse momento ela se encontra em processo de crescimento estrutural.

 

Falando de Axé: Para você, qual é a Importância das Crianças e dos Jovens dentro da Religião Umbandista?

Mãe Elis: Assim como para qualquer religião ou o próprio mundo, eles são o futuro...

Temos que descortinar a nós primeiramente e depois aos nossos filhos, eles têm que terem orgulho e entendimento, para ao serem questionados sobre sua religião, poderem dizer livremente: Sou Umbandista, sem medo de retaliações, chacotas ou descriminações. A mediunidade não pode ser vista como um fardo, tem que ser explicada pois é uma faculdade inerente a todos nós e desenvolvê-la cria em nós uma energia altamente positiva e Divina.

Em todas as religiões, vemos Pais que levam seus filhos e ensinam desde novos o caminho de sua Fé e a vivência se dá por osmose, porque na nossa que é tão bela não o fazemos também?

Afinal, ensinamos a ter Fé, praticamos a Caridade, valorizamos muito a ajuda ao irmão, nossa religião não é para ser escondida e sim propagada e somente através de nossas crianças e do ensinamento de nossa Doutrina, atingiremos esse ideal.

 

Falando de Axé: O que justifica pra você, a Umbanda ser uma religião tão descriminada?

Mãe Elis: A falta de conhecimento, de divulgação, de clareza sobre a verdade de nossa doutrina.

A vaidade de alguns que intitulam que seu guia pratica o mal, que castiga, que sua casa é “forte” porque faz “trabalhos pesados”... Casas que cobram, trabalham com amarrações, prometem milagres e comercializam a fé, e para todos esses casos recorrem ao nome de Umbanda. Transformando a grande oportunidade do ato da incorporação num verdadeiro circo de horrores...

 

Falando de Axé: Em seu Templo de Umbanda, é realizado algum projeto social?

Se sim, por quê?

Se não, por quê?

Mãe Elis: Nesse momento ainda não. Estou em fase de estruturar os médiuns de minha casa, atualmente somos por volta de 50, tenho médiuns comigo há 3 anos, que é o tempo que nossa Casa foi fundada - 15/11/2008, exatamente no centenário da Umbanda, mas desde de seu início visei o desenvolvimento mediúnico, trabalhando de portas fechadas, ou em pontos da Natureza, até por falta de local para trabalho, neste ano em 23/04/11 abrimos nossa Tenda à Público numa belíssima Homenagem ao grande Sr. Ogum.

Trabalhamos desde então com muito desenvolvimento, Giras de atendimento ao público, e como converso muito com eles, temos que fundamentar nossa casa, poderíamos dizer que eles são os funcionários de uma grande empresa e que precisam estar bem capacitados para poder crescer cada vez mais. Já estamos em andamento com projetos de ensino para nossas Crianças e Jovens, Tratamento Holístico para os que necessitarem e muito por vir daqui pra frente.

 

Falando de Axé: De acordo com a sua vivência, o que você acredita que falta, para que nossa religião seja mais respeitada e menos descriminada por todos?

Mãe Elis: Cabe a nós, médiuns de Umbanda, mudar essa imagem negativa cultuada ao longo do tempo. Entender que “Levar ao mundo inteiro a Bandeira de Oxalá” está muito mais do que palavras de nosso hino... Está em mostrar a verdadeira face da Umbanda, que é uma religião que prega as mesmas verdades e busca a mesma paz de espírito que todas as outras religiões. Umbanda é dedicação, disciplina, doação, respeito, reforma íntima, é a conscientização sobre o Bem e o Mal. Umbanda não é milagre, mas merecimento. É estudo e consciência e não comodismo ou achismo. É respeito à natureza, pois Umbanda é natureza.

 

Falando de Axé: Mãe Elis, você poderia nos falar o que Mãe Oxum, seu Orixá de Cabeça e Vovó Cambinda representam em sua vida?

Mãe Elis: Nossa!

Simplesmente assim: TUDO!

Oxum é minha Vida, meu Caminho, minha Luz, minha Srª Amada, Querida, que me acalenta, me repreende, me direciona e me dá sentido...

Minha “Velha” é a calma em pessoa (como é diferente de mim...), é dona de uma sabedoria ímpar, que me faz ouvir, que me mostrou ao longo desse caminho a minha missão e a deles (meus guias) junto a mim e a essas “crianças”, seus “fiotos” como ela carinhosamente os chama. Mas tem muito mais, tem a seriedade de DªJupira, a firmeza de seu Giramundo, a esperteza de Mariazinha, o desprendimento de seu Caveira, a leveza de Mª Cigana e o ensinamento e talvez a maior lição de vida espiritual que já tive que se chama Mª Navalha (um dia em outra prosa eu conto...).

Falando de Axé: Para finalizar essa nossa maravilhosa conversa, qual é a Mensagem que a senhora deixa para os Umbandistas?

Mãe Elis: Orgulhem-se de serem Umbandistas, tragam no Peito, na Alma, na Fé. Estudem, pois, só assim daremos base e traremos respeito a nossa religião. E acima de tudo pratiquem a Umbanda, sejam umbandistas 24 horas ao dia e não somente no momento de adentrar em sua Tenda. Deixo a todos um ponto feito pela médium e intérprete Rosana Pinheiro no qual o transformei em hino da T.U.E.A - Tenda de Umbanda Estrela de Aruanda, que acho perfeito como mensagem a todos os Umbandistas...

 

“ESTAVA NA BEIRA DE UM CAMINHO,

CHORANDO, SOFRENDO SOZINHO,

DE REPENTE UMA LUZ ME APARECEU,

ESSA LUZ VEIO DE OXALÁ,

ESSA LUZ VEIO DE DEUS.

ESSA LUZ ME APONTOU UM NOVO CAMINHO,

HOJE SOU FILHO DE UMBANDA,

NUNCA MAIS ESTOU SOZINHO.      

                

É, É, É, É,

UMBANDA É PRA QUEM TEM FÉ,

PRA QUEM TEM FÉ

É, É, É, É,

UMBANDA É CARIDADE,

UMBANDA É FELICIDADE.”